Desenganche
No abraço que desenlaça nosso encontro Me afasto com um gosto amargo na boca Gosto do sabor do que não fora saboreado E o desgosto degustado pelo não saber O que é que você poderia ter experimentadoMinhas oferendas são prendas menores Mesmo que seja tudo o que tenho a ofertar Minhas oferendas por intensas e verdadeiras Por mais que germinem e brotem do meu ventre Penso que jamais poderão lhe agradar
Não sei o que te oferto Pois não sei o que tenho pra ofertar Busco mirar seus olhos Tentando neles qualquer coisa decifrar Qualquer coisa com a qual possa lhe agradar
Nunca sei o que lhe satisfez Por isso jamais consigo saber por que voltas Se para buscar em mim cores sabores outros predicados Ou se para buscar em mim o que de mim tão pouco te ofertei
Quanto mais eu sinto que desejas o que um dia lhe ofertei Mais os meus medos se revelam Os temores se manifestam Envolve-me o medo de que a qualquer momento Poderei não mais lhe agradar Quanto mais eu ouço o quanto me queres Mais eu fico a me perguntar: por que me queres? Se tão pouco tenho pra lhe ofertar?
A cada volta A cada desejo manifesto Mais me obrigo a mais ainda lhe agradar Me obrigo tanto que a qualquer momento Tornar-se-á para mim o que haverá de mais insuportável Não imaginas que a cada vez que me desejas Meus suplícios emudecem-se às minhas súplicas E desalmados e insanos só fazem me atormentar Porque em mim paira sempre a angústia De que do jeito que me queres Não conseguirei te agradar
Com posso acreditar que nesse abraço de partida Vais plena saciada e feliz Se nem mesmo sei o que é que foi que lhe dei? Não sei como posso conviver com isso
Como posso dar conta de preparar-lhe uma oferenda Lhe acolher lhe esperar com o coração em paz Se não sei o que queres Se não sei o que tenho pra oferecer Se nem sei o que é que posso te ofertar?
O meu prazer se resume creia-me Em saber e sentir se sentes prazer em estar comigo Tenho prazer quando te ouço dizendo que tens prazer Os meus prazeres se resumem em dar prazer…
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