Categoria : Do Livro CARREANDO HISTÓRIAS – Inédito

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Cavaleiros da Saudade

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foto Gilberto Rodrigues
 
 
“A todos os companheiros de cavalgada.
Os que já se foram e os que estão aprendendo a montar…”
 
Pelo menos
uma vez a cada ano
se reúnem em uma fazenda
muitos caipiras urbanos
prá realizarem uma cavalgada
 
Todo Mundo
que ali tá reunido
teve o avô ou tem o pai
que já tocou uma boiada
dia inteiro numa estrada
 
“ … mas hoje em dia
tudo é muito diferente
com o progresso nossa gente
nem sequer faz uma idéia …”  [1]
 
Da cavalgada
virou hino essa canção
que o tempo inteiro é cantada
com saudade e emoção
prá relembrar a nossa história
 
De madrugada
com violas enfeitadas
cantadores e violeiros
já despertam os cavaleiros
prá selarem a manada
 
Aquela lida
de tamanho entusiasmo
vai apagando de repente
tudo que era marasmo
dando vida a essa gente
 
Até parece
que a vida da cidade
se esvaiu que nem poeira
nos cascos desses cavalos
prá todo mundo ser feliz
 
Estrada afora
os cavaleiros da saudade
campeando a sua história
desordenam todas as ordens
e trazem para o futuro o seu passado
 
Cada parada
que faz essa peonada
ao longo do caminho
tem viola e cantoria
cantando modas e toadas
 
Tocando em frente
o ponteiro da estrada
já não leva mais berrante
e nem medo ele tem mais
de um estouro de boiada
 
A tardezinha
noutra fazenda é a pousada
os cavaleiros e os cavalos
são ali já esperados
prá descansarem um tiquim
O fogão de lenha
tem comida com fartura
e enquanto num chega a hora
é servida com torresmo
uma pinga das mais puras
 
Cavalgando um dia
da Fazenda Boa Vista
lá prá Fazenda do Tanque
passamo a noite em claro
extasiados com a viola
 
Tuca
violeiro dos prendado
despertou todo o sertão
com ponteios enraizados
no coração dos cavaleiros
 
De madrugada
outra vez estrada afora
cavalgando a saudade
daquele tempo tão distante
mas que na alma ainda persiste
 
Um dia acaba
também mais uma cavalgada
como acabou essa vida
só deixando em seus rastros
um rio grande de saudade
 
Um rio cheio
de pesar e de tristeza
e aquela vida com certeza
só vai de novo ser vivida
quando houver outra aventura
 
Cavaleiros da saudade
vão contando pros seus filhos
galopando história afora
como era que viviam
aqueles homens do sertão.
 

[1]  Da moda “ Mágoa de Boiadeiro “ de Nonô Basílio e Índio Vago.

Da Flôr do Ipê

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foto Gilberto RodriguesComo quem que cochilava

Recostado num Ipê desnudo

O Curupira matutava

Na maldade que há no mundo

 Fazia tempo e num atinava

Num modo de proteger

Dos homens que ali chegavam

Aqueles belos pés de Ipê

 

 Na passagem de estação

Ficava o Ipê desprotegido

Sem folhas até dava a impressão

De que havia mesmo era morrido

 

 Num pulo salta o Curupira

Saltitante de alegria

E de sua alma tão caipira

Vem a resposta que carecia

 

 Se o homem corta o pé de Ipê

Porque parece que ele morreu

Já sabe o Deus das matas o que fazer

Vejam  só o que se sucedeu

 

 Sai o Curupira caminhando

Com seus pés virados mata fora

 E com cada árvore vai assuntando

Sobre os segredos da sua flora 

 Acharam logo a solução

Pra todo Ipê poder salvar

Quando chegasse a estação

E ele tivesse que se desfolhar

 

 O Deus das matas se apressou na decisão

De cobrir o pé de Ipê com flores das mais belas

Tão logo sua última folha fosse ao chão

Floresceria o Ipê lindas flores amarelas

 

 Então todo mundo admirava

O Ipê que ficou de rara beleza

O homem então não mais lhe cortava

E até fez dele símbolo da natureza

 

 Quem sabe tudo desse acontecido

É o Caipora, dos animais o protetor

Que se alembra ainda desse ocorrido

E dia desses tudo isso me contou.

 

NOTA DE PESAR: Com grande Tristeza registro aqui, contrariando o sonho do Curupira, que em agosto de 1998, em Queluzito, MG, ( ver poema Minha Terra, em PERFIL) foi cortado um pé de Ipê secular, enquanto por alí passávamos em cavalgada, coberto de flores amarelas, apenas para que não fizesse sombra num telhado e para aproveitar o terreno para aumentar uma construção.

O homem compreende cada vez menos a si mesmo e projeta na natureza a sua raiva.

O Curupira está sendo vencido pela estupidez humana.