Da Flôr do Ipê
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Como quem que cochilava
Recostado num Ipê desnudo
O Curupira matutava
Na maldade que há no mundo
Fazia tempo e num atinava
Num modo de proteger
Dos homens que ali chegavam
Aqueles belos pés de Ipê
Na passagem de estação
Ficava o Ipê desprotegido
Sem folhas até dava a impressão
De que havia mesmo era morrido
Num pulo salta o Curupira
Saltitante de alegria
E de sua alma tão caipira
Vem a resposta que carecia
Se o homem corta o pé de Ipê
Porque parece que ele morreu
Já sabe o Deus das matas o que fazer
Vejam só o que se sucedeu
Sai o Curupira caminhando
Com seus pés virados mata fora
E com cada árvore vai assuntando
Sobre os segredos da sua flora
Acharam logo a solução
Pra todo Ipê poder salvar
Quando chegasse a estação
E ele tivesse que se desfolhar
O Deus das matas se apressou na decisão
De cobrir o pé de Ipê com flores das mais belas
Tão logo sua última folha fosse ao chão
Floresceria o Ipê lindas flores amarelas
Então todo mundo admirava
O Ipê que ficou de rara beleza
O homem então não mais lhe cortava
E até fez dele símbolo da natureza
Quem sabe tudo desse acontecido
É o Caipora, dos animais o protetor
Que se alembra ainda desse ocorrido
E dia desses tudo isso me contou.
NOTA DE PESAR: Com grande Tristeza registro aqui, contrariando o sonho do Curupira, que em agosto de 1998, em Queluzito, MG, ( ver poema Minha Terra, em PERFIL) foi cortado um pé de Ipê secular, enquanto por alí passávamos em cavalgada, coberto de flores amarelas, apenas para que não fizesse sombra num telhado e para aproveitar o terreno para aumentar uma construção.
O homem compreende cada vez menos a si mesmo e projeta na natureza a sua raiva.
O Curupira está sendo vencido pela estupidez humana.
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