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Liberdade

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foto Gilberto Rodrigues

 

 

 

 

 

A todos os povos que ainda não esqueceram

A maravilhosa arte de lutar pela LIBERDADE

 

 
Eu queria gritar o canto
Que se encontra
Estancado em meu peito.
Já é hora
O povo espera,
O sistema insiste.
Porém eu creio,
A angústia é mais forte.
 
            TRABALHADORES, INTELECTUAIS,
            LIBERAIS E ESTUDANTES:
            Individualmente nosso desejo
            É batalha perdida.
            É preciso que a causa seja Nacional
            Porque a dor que leva à morte,
            Ou nos faz calar,
            É um convite à Luta.
 
Deixar morrer o corpo
Para sentir a liberdade do peito ou da voz
Daqueles que emudeceram
Será feito sem receios
Se for necessário. QUE VIVA A LIBERDADE.
 
Calar o peito ou a voz
Para permitir que o corpo
Seja arrastado por caminhos afora
É massacrar o desejo
Que brota inocente
No coração de nossos filhos.

Estradas e Caminhos

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foto Gilberto Rodrigues

Agora não importa mais
Se há ou não estradas.
Agora não dá mais prá perguntar
Se há como ou mesmo aonde chegar.
O momento é de precisão
E é preciso ir.
Ser. Fazer acontecer…
                É preciso chegar

Corpo Chão

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foto Gilberto Rodrigues

 Meu corpo está vermelho.
É vermelho
Meu coração. Meu peito é vermelho
Do pó, do chão de onde eu vim.
 
 
Era chão de mato,
De fato
Era corpo livre
No meio do pasto.
 
Era terra, era vento,
Era o corpo. O corpo era a terra.
E corpo e terra eram sementes,
Geradas nas tardes de sol, vermelhas de amor.
E na terra do sol eu sou.
 
Meus pés têm a cor da noite.
Os meus olhos têm a cor do sangue,
Sinto cheiro de asfalto,
Saudades do mato,
Saudades do chão.

Uma nota necessária

No dia 3 de junho de 1982 foi realizada uma noite de autógrafos para o lançamento do meu primeiro livro, CORPO CHÃO.

Prof. Hamilton

Três dias antes do lançamento conheci, através de um amigo comum, o Prof. Hamilton José Lopes dos Santos, que lecionava as disciplinas de Língua Portuguesa e Literatura em várias escolas da região. Na ocasião foi-me dito que o Prof.  Hamilton declamava muito bem. Pedi-lhe então se não poderia declamar um poema na noite de autógrafos. Ele se propôs a levar o livro para sua casa com a condição de que se gostasse apareceria no dia para a declamação pedida. Ele apareceu e daclamou o poema que eu havia lhe pedido e mais dez poemas. A declamação destes poemas foi gravada em fita cassete e agora  as publico.  Encontram-se na categoria ” Do livro CORPO CHÃO – 1982″

Ouça o que disse o Prof. Hamilton.

Procura

 Ei, meu Pai,
Você um dia
Falava-me, ainda me lembro,
Lá no jardim de casa,
Que eu deveria amar,
Ser feliz e trabalhar.
Mas você se esqueceu,
Meu “querido velho”,
De falar-me
Da fumaça
Da bomba-mental
Da fábrica anti-humana
Da luta desumana
Do décimo – terceiro.
Você falou
Que eu deveria ser bom
Ser amigo e
Pregar o amor,
Mas esqueceu-se de falar
Da TV, da pressa,
Da opressão,
Da mentira.
Por que você se esqueceu,
Meu pai?
Eu sonhei,
Amei
E até lutei.
Estou calado,
Covarde, medroso.
Medroso do meu mundo, Pai.
Mas o que você
Tem a ver com isso?
Você teve mais
Sorte do que eu.
Você tem o campo,
A lua,
Uma coruja na madrugada,
Um sol sem fumaça
Um amanhecer sem pressa,
A paz de graça,
O amor de fato,
A flor do mato,
Seu chão sem asfalto…
Você sabe viver, Pai.
Estou tentando sobreviver.
Do que me vale
Escrever bonito,
Ser poeta,
Cantar meus campos,
O chão onde nasci,
Se estou comodamente
Filosofando, quando
Não há lugar para
Filosofias
Nem poesia
Nem paz?
Boa noite, Pai.