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sobre o CIÚME

É  frequente ouvirmos afirmativas de que quem não tem ciúmes é porque não ama. Em parte essa afirmativa procede se estivermos falando do que chamamos ciúme normal, porém temos que nos perguntar se todas as manifestações de ciúme, são iguais, se são normais. Com certeza já vimos ou mesmo já experienciamos cenas ou manifestações de ciúme que consideramos exageradas, descabidas, sem sentido. Mas há sentido no ciúme? Sim, há sentido no ciúme, naquele que poderíamos chamar de ciúme normal, que pode ser racional, que se dá diante de uma situação real, normal e compreensível. Porém o grande problema do ciúme, que acaba, inclusive, desestruturando muitas relações é o ciúme que extrapola circunstâncias reais. Poderíamos chamá-lo ciúme patológico, ou doentio. Ao contrário do ciúme normal, o ciúme doentio ou patológico, é aquele que se manifesta sem nenhuma justificativa objetiva, sem nenhuma correlação com o que ocorre na realidade. É uma relação imaginária de quem sente o ciúme com aquela pessoa a quem pensa amar, ou seja, o seu objeto de ciúme.

            O ciúme está diretamente relacionado a quem o sente, a quem é ciumento e não ao objeto do ciúme. O que caracteriza o ciúme são as circunstâncias e o modo que cada sujeito se relaciona consigo mesmo e por consequência, consigo mesmo diante de alguém a quem ama ou pensa amar. Também cabe falar que há manifestações de ciúmes relacionadas a objetos, a coisas, mas isso poderá ser tratado numa outra ocasião.

            Pelo fato de que as manifestações de ciúme se dão em decorrência de como o ciumento se relaciona consigo mesmo podemos falar que a intensidade de ciúme manifesta por uma pessoa não corresponde de modo algum a intensidade do amor experimentada, porque aqueles que são muito ciumentos têm normalmente significativa dificuldade de amar porque o que buscam mesmo é experimentar o sentimento de que são amados. Uma das principais e mais importantes causas das manifestações do ciúme é a baixa autoestima. O sujeito ciumento muitas vezes assim reage pelo medo de perder, pela sensação de que um outro possa oferecer ao seu objeto de amor  algo que ele sente que não poderá ofertar. Diante desta circunstância fica buscando verificar o tempo inteiro se é, na sua relação, o alvo principal de atenção, o alvo, muitas vezes, de exclusividade, por parte de seu objeto de amor, por parte de quem pensa amar. O medo de que alguém possa ser mais interessante o apavora, e isto decorre da sua baixa autoestima, consequência do pouco conhecimento que tem de si mesmo ou mesmo do quanto não se conhece. Desconsidera que se alguém lhe escolheu como par numa relação de amor assim o fez por livre vontade, e não será, em hipótese alguma, uma pressão ou uma “marcação cerrada” sobre o seu parceiro de relacionamento, ou uma tentativa de controle,  ou a presença incondicional que fará com que este parceiro o ame para sempre, ou não o abandone. Ao contrário, esta conduta ciumenta pode é na realidade fazer com que você, ciumento ao exagero, torne-se desinteressante, ou ainda, mais desinteressante, porque além de tudo isso passa o sentimento de desconfiança naquela pessoa que você diz amar intensamente e quer sempre ao seu lado, como desconfia também da escolha que esta pessoa fez para estar com você e não com uma outra pessoa qualquer. Por isso podermos dizer que o medo de perder o amor dá-se com frequência naquelas pessoas com baixa autoestima e que estão mais preocupadas em sentirem-se amadas. Olhando mais para si mesmos do que para seus objetos de amor. Por isso afirmarmos que o ciúme decorre de quem o experimenta e não de quem dizemos que o “provoca”. Isto porque esta baixa autoestima leva o ciumento a acreditar que toda atenção que seu objeto de amor dispensa a outro que não a ele é maior, é mais intensa, é mais carinhosa. Além de tudo isso, muitas vezes o ciumento tem as conhecidas crises de ciúme, que tanto estrago faz nas relações porque sente que ele, o ciumento, não é o centro das atenções. Onde o sujeito sente-se num plano secundário quando das relações do seu par com outras pessoas quando queria ser ele o alvo destas atenções.

            Podemos dizer que o ciúme normal leva a cuidados enquanto o ciúme doentio provoca a destruição das relações de amor. Por isso, quando o ciúme leva a uma busca de controle do outro é porque está na hora de realizar uma avaliação de si mesmo para que, por causa deste ciúme doentio as relações não sejam desestabilizadas ou mesmo venham a acabar. Mas é importante também que estejamos sempre alertas se há manifestações de ciúme ao exagero, seja na frequência ou na intensidade, seja no que chamamos normal ou patológico, pois o ciúme é um sinal de que precisamos olhar melhor para as nossas relações na busca de enxergarmos como poderemos melhorá-las. Ciúmes existirão sempre. Como lidar com ele é algo que precisamos aprender e aprendemos a partir do momento que buscarmos nos conhecer melhor e aprendermos a nos enxergarmos nas nossas relações com o Outro.

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