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Servo da Liberdade

foto Gilberto Rodrigues

Perdi-me de mim mesmo
Não sei em que circunstâncias
Nem tampouco por que razões
E numa busca errante para reencontrar-me
Perdi-me novamente por veredas e sertões
Perdi-me por artérias congestionadas
Por profundas cavernas do coração
Entre desejos vis e uma obcecada imaginação
Até não saber-me não me sabendo indo a esmo…
Insegura alma nômade sem saber qualquer saber
Em pânico por ver-se apenas num caminhar

Precisava assegurar-me de que não me perdia
Então me tornei senhor absoluto
Do nada de qualquer coisa e todas elas
Escravizei quem queria apenas amar-me
Fiz escravos quem me era querido
Fiz-me forte fiz-me temido
Fiz-me dono e senhor dos meus desejos
Projetados em quem deveres me deviam
Condição de quem me viu imaginá-los escravos

Tornei-me tão senhor
De escravos tão escravizados
Mas na contradição do que a vida é
Vi-me dependente de tantos servos
Submetido então aos seus desmandos
Escravo então de meus escravos
Que com ou sem consciência
Fizeram-se então meus senhores…
Tornei-me um senhor escravizado

A servidão ávida de servir
Para livrar-se desta condição
Torna-se o norte de quem se faz senhor
E o senhor seguro da obediência cega
Cai inerte sob o jugo de quem um dia
Pensava dominar e determinar os atos
De quem se fazia dominado e sem protestos

Nem escravos nem senhores
São servidos sem servirem
Ou servem sem serem servidos
Não há escravos nem senhores
Somos escravos e somos senhores
Escravos ou senhores
Senhores ou escravos
O meu saber de mim
Ou o meu nada sei me estabelece

Quem é o escravo
E quem é o senhor
Na dialética das relações
Onde a transgressão e a servidão
São as marcas das vivências cotidianas?

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