SEM CASTIGO A VIDA CESSA
Povos que se arrodeiam de mim
Não fechem os olhos lhes suplico
Para os crimes que cometo dia-a-dia
Há crimes que ceifam a vida
A criatividade e o novo
Não é esse o crime que canto
Encanta-me o outro crime
Que traz pleno em seu bojo
A marca implacável da morte
Como prenúncio de vida nova
Como posso ousar transgredir
Subverter se certeza eu não tiver
De que pelo fato feito
Se crime vir-a-ser
Eu receba sem dó nem compaixão
Sem raivas nem vingança
Mas com presteza e
Sem parcimônia
E tão somente por ser correto
O castigo que então julgado a mim couber
Pelo dano provocado pelo crime feito
A certeza do castigo líquido
Liberta-me para viver segundo eu mesmo
Para incriminar-me sem remorsos
Após ter-me visto indignado e pasmo
Diante das concessões e das permissões
Dos homens pobres e lesos
Para que homens vivam ou morram…
Por onde andará então pergunto
A crua possibilidade
Do livre vir-a-ser
Oh! Homens das leis
Magistrados e legisladores
Dignos promotores da nossa indigna sociedade
Não ponham as leis sob mim
Nem menosprezem minha torpeza de caráter
Nem meus genes de sobrevida
Que me lançam a morte pelas próprias vidas
Condenem-me a cada nova transgressão
Mas não me matem pela possibilidade de fugir
Se não fujo não creiam em consciência
Não é por julgar-me inocente
Que fico estanque
Mas tão somente porque minh’alma
Contaminada de forma irreversível
Por sonhos de liberdade plena
E idealismo de vidas livres
Precisa ter a certeza do castigo inconteste
Sendo livre e digna minha sociedade
Encarregar-se-á de impingir-me preciso crer
Tão logo eu transgrida as suas normas
Aquelas ordens rotas imbecis e já mortas
Das frias letras nas lápides dos códigos e das leis
Como mortos são todos
Os princípios de nós mesmos
Por isso tenho que transgredi-los outra vez:
Nunca ter medo de cometer.
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