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Escolhas

IR OU VIR – foto gilberto rodrigues

O nosso dia-a-dia, os rumos que tomamos na vida, os amores que acolhemos ou aqueles que desprezamos, os que vivemos ou os que não deram certo; as características que terá ou que não terá nossa vida é decorrência das escolhas que fazemos ainda que não tenhamos consciência de cada uma dessas escolhas, ainda que não saibamos o que está, de fato, por detrás de cada uma delas, ainda que em muitas vezes até imaginamos que não estamos escolhendo. Tudo o que somos e como conduzimos nossas vidas é, indubitavelmente, resultado das nossas escolhas. Repito, sejam estas conscientes ou inconscientes.

As escolhas conscientes são mais fáceis de serem compreendidas pois de algum modo “sabemos” que estamos escolhendo. O problema é quando fazemos escolhas que parecem ser conscientes mas estas se fundamentam em questões que estão enraizadas em um não saber consciente, no inconsciente. O problema é quando fazemos escolhas baseados em razões que nos pertencem, que são nossas, mas por serem da ordem do inconsciente nem imaginamos sua existência e seu poder de influência sobre cada escolha que realizamos. Neste momento podemos perguntar: como posso ser responsável por uma escolha se não tenho consciência de que a faço? Porém, nesta pergunta já se encontra uma questão importante a ser refletida: Se não escolho ser assim como sou, se não escolho o destino dos meus relacionamentos, se não escolho que minha vida seja como é, quem então escolheu que ela fosse assim? Que fatores e circunstâncias determinaram que minha vida fosse como é? O destino da minha vida, dos caminhos que faço ao longo da minha vida não são, então, de minha responsabilidade? Minha vida não está nas minhas mãos? Qual é então, o papel que tenho para comigo, no que se refere a minha vida? Ser coadjuvante do desejo do Outro? Deixar que o Outro conduza minha vida, meu caminho e meu destino? Quando chegamos a este ponto de angústia, quando conseguimos, corajosamente, fazermo-nos estas perguntas temos que, sem possibilidade de esquiva ou desculpas fazer a escolha para uma resposta a seguinte questão: coloco-me como vítima de circunstâncias que traçam os caminhos por onde conduzo minha vida ou sou eu  o responsável pelos rumos e pelos modos como minha vida é conduzida?

Parece-nos ser mais confortável que tenhamos sempre à mão alguma coisa, alguma circunstância para nos apegarmos e a partir daí justificar nossas ações ou nossas omissões. Tornamo-nos assim vítimas de circunstâncias que “fingimos”de fato acreditar para, a partir delas, justificar nossos fracassos, nossos infortúnios, nossos vazios existenciais, nossos desencontros no amor, nossos relacionamentos mal sucedidos, e outros insucessos como na profissão ou na própria vida. Buscamos então com ênfase e desespero explicações religiosas, no destino, nas condições sociais ou sócio- econômicas. Quantas vezes não buscamos justificar nossas atitudes, de fazer ou não fazer, em nossos filhos, ou em nossos familiares, ou mesmo em nosso cônjuge ou nos  amigos, em nossa religião, em nossa profissão, na falta de escolaridade, na falta de condições financeiras, no tempo, na distância, no amor, no receio de magoar alguém, no receio de provocar a infelicidade alheia – e poderíamos construir aqui uma lista imensa de justificativas que usamos – porque é mais fácil acreditar que é alguém, ou que é por alguém que faço ou deixo de fazer algo em minha vida ou para minha vida, do que assumir que eu, apenas eu posso, e apenas eu escolho os rumos que dou a minha vida e mais ninguém. Quando colocamos a justificativa das nossas escolhas no Outro assim o fazemos ou porque não temos consciência das escolhas que fazemos ou então porque não temos a coragem necessária para assumir e pronunciar uma escolha em nome próprio assumindo assim as consequências desta escolha. Quando não temos estrutura psíquica e emocional, quando não temos coragem suficiente para assumirmos nossas escolhas tornamo-nos vítimas na vida e dizemos sem receio que se não fossem as circunstâncias atribuídas ao Outro poderíamos  ser mais felizes. Atribuo então ao Outro a responsabilidade pelo meu destino quando só eu o posso traçar. E o traço com que marco meu destino decorre invariavelmente das escolhas que faço no meu dia-a-dia, com seus riscos e consequências, com suas dores e suas alegrias, infortúnios e êxtases indescritíveis.

Pois é, só eu posso ser responsável pelas escolhas que faço, pelos caminhos que escolho, pelos rumos que decido para a minha vida. Esta assertiva é de uma crueza e de uma veracidade que nos obriga a repensarmos sobre como é e como será nossa vida. Que rumos terá, quais serão os meus percursos, como serão minhas realizações.

Quanto as escolhas que passam pelo campo da consciência podemos verificar se de fato estamos fazendo-as olhando para o lugar em que nos colocamos na vida e olhando para a vida que estamos vivendo e verificando, sempre se esta é, de fato, a vida que quero viver. Quanto as escolhas que são influenciadas pelo inconsciente, estas carecem de análises mais profundas, carecem de nos conhecermos melhor, com  mais profundidade para podermos ganhar a condição necessária para assumirmos nossa vida em nossas próprios mãos ao invés de ficar justificando nossos infortúnios como se fôssemos infelizes vítimas de um destino desalmado. A escolha é de cada um de nós. A sua só você pode realizá-la.

Somos consequência das escolhas que fazemos.

artigopublicado na VITRINE REVISTA, agosto 2012www.vitrinerevista.com.br

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