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Adeus ano novo, (in)feliz homem velho!

foto Gilberto Rodrigues

Vamos já por meados de janeiro. Ressoa ainda em nossos ouvidos o que talvez tenhamos mais escutado por volta de um mês atrás, vésperas das comemorações de natal, da passagem de ano. Escutamos pelos quatro cantos, pois ecoava aos quatro ventos, a expressão de um desejo de que o ano que findava fosse embora o mais rapidamente possível e que o ano vindouro trouxesse perspectivas de que todos os sonhos, planos, desejos e projetos que não se concretizaram ano passado pudessem agora, no ano novo, tornarem-se realidade.

Observa-se então que este é um ritual que se dá a cada ano, todos os anos, sem mudar nada. Em todo final de ano há o desejo de que o ano que finda se vá o mais rápido possível para que o ano novo seja promissor e nele, nossos sonhos se realizem. Mas como sonhos novos e projetos interessantes se realizarão se continuamos a ser os mesmos homens velhos que sempre fomos? Ao não mudarmos condenamos o ano que se inicia à mesmice desinteressante de sempre.

Há algo errado, com certeza nessa equação. Uma fria e desalentadora constatação é de que os pedidos, de que no ano novo fossem realizados os sonhos e os desejos de cada um, não aconteceram. – Ou então poderemos olhar de outro modo: deu sim tudo muito certo, se não tivesse dado estaria tudo muito pior-. Mas por via das dúvidas verificamos, de novo, os ritos de passagem de ano. Lentilhas, romãs, bagos de uva, carne de porco, nozes, avelãs, castanhas e tâmaras, na culinária; calcinhas e cuecas novas, roupa branca, uma peça amarela, lençóis novos para os recém-casados, no vestuário; afora pular sete ondas, dar três pulinhos com uma taça de champanhe na mão sem derramar, etc. E essa lista fica enorme. Mas, ano passado foi assim também. E no outro ano também fora assim. E nos outros, e em todos os outros. Por que então que, ao final de cada ano, tendo feito tudo pra que este ano fosse bom, próspero, com muita sorte e saúde, queremos que ele acabe logo, passe o mais rápido possível, para que então entre o ano novo, e na entrada, de novo, tudo outra vez seja realizado? Sabem por que? Porque cada vez mais valoriza-se somente os rituais que se tornam, a cada ano, vazios, sem sentido e estéreis.

 Há uma pergunta inquieta, que não cala: se tudo é feito conforme recomendações das tradições, dos costumes e das crenças, por que o resultado não corresponde ao empenho e a dedicação fervorosa de cada um? Por que falta algo? Mas o quê? Autenticidade. Quantos cearam com seus familiares ou parentes só porque assim manda a tradição? Quantos não presentearam somente porque este é um costume? Quantos se sujeitaram àquela reunião familiar enfadonha e com as mesmas estórias, por falta de opção? Já repararam como o clima de ano-novo é diferente do clima de natal? Por que será? Porque nas comemorações do ano novo escolhemos com quem vamos compartilhar nossos desejos, nossos sonhos, nossas fantasias enquanto que no natal há obrigações, e quantas obrigações. Do que comer, do valor mínimo do presente, de onde cear, de como se comportar…. Tédio. Vazio. Tristeza, angústia e depressão. Os significados e os conteúdos se perdem nos formalismos e nas aparências…

Se você não estiver disposto a olhar pra você, a se re-conhecer, a ser uma pessoa melhor a cada dia, de nada adiantaram, nem adiantarão, os rituais e as promessas que acabara de fazer. Não são os rituais que estão sem sentido, nem os anos que se repetem, nem são as pessoas que são chatas. Os rituais, os anos, as pessoas são e serão, sempre, reflexos de você.

Se não nos propusermos a nos tornar pessoas melhores, mais compreensivas conosco, com as demandas que fazem as nossas questões, com certeza, daqui a doze meses estaremos torcendo para que este ano que se inicia agora acabe rapidamente. E então estaremos, de novo, torcendo para o novo ano que se inicia e nele vamos depositar, de novo, nossos projetos, nossos sonhos, nosso futuro.

Está na hora de revermos isso para que as festividades natalinas e de ano novo não sejam um conjunto de obrigações, mal cumpridas na maioria das situações, e reveladoras das nossas incapacidades para nos relacionarmos bem e com maturidade, com as pessoas que nos são queridas, importantes e significativas. E isso só será possível quando nos dermos conta de que o futuro somente será melhor quando pudermos dizer uns para os outros, num abraço sincero, enquanto pessoas novas: FELIZ HOMEM NOVO!

Artigo publicado na revista VITRINE, janeiro de 2012, n. 26, ano 3 – www.revistavitrine.com.br

One Response to “Adeus ano novo, (in)feliz homem velho!”

By Gloria - 18 janeiro 2012 Responder

É isso aí amigo Gilberto! Tomara que consigamos sempre melhorar para alcançarmos o tão desejado FELIZ HOMEN NOVO !
Um abraço,
Gloria

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