Palavras caligrafadas…
Tenho em minhas mãos Uma caixa de palavras E dentro dela todos os signos Todas as letras do alfabeto E quando as alinhavo Juntando letras da minha história Revolvo entranhas com minhas lembranças Do mundo que me escreveu Dos silêncios que me redigiram Tenho em minhas mãos Uma caixa de palavras Onde se comprazem Possibilidades indecifráveis A espera de uma construção Pra numa oração insubordinada Pronunciar-me para mim Reescrevendo-me para o mundo
Tenho em minhas mãos Uma caixa de palavras Cheia de letras que se conformam Ou me deformam Diante do meu tempo Meus medos e desejos Pra contarem de mim em sonhos Lembranças e memórias
Tenho em minhas mãos Uma caixa de palavras Cheia de letras e sinais Pra que eu possa um dia Reescrever-me ou falar-me Pra mim mesmo
Tenho em minhas mãos Uma caixa de palavras E me alegro e me divirto Quando com suas letras Começo a formar por linhas Ainda tortuosas Uma possibilidade de ser feliz
Minha caixa de palavras Guarda-se no silêncio Revela-se na pronuncia…
Mas Minha caixa de palavras Tem um fundo falso Ali onde se eternizam nomes próprios Escritos um dia sobre meu corpo Guardados ali como segredos Mas que não dei conta de suportar Restaram deles em mim Profundas marcas e cicatrizes Restos ainda a me nomear
Esses nomes próprios Guardados no conforto do fundo falso Desmanchar-se-ão um dia em letras Quando do meu corpo marcado Cada palavra eu souber soletrar.
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