O OUTRO
Algo de verdade em mim tomou a minha mãodesenhava palavras construía versos
mesmo ante minha grande indignação
Aqueles versos um poema escrevia
um sentido indigesto delatava
e eu escrevia escrevia e chorava
Enquanto lia assustado o que revelava
ia me desvelando no atropelo de cada verso
naquele poema que me escrevia
As palavras escorriam papel afora
compondo significados insinuando sentidos
numa linguagem que por mais que não quisesse
me falava do que não sabia mas sabia
Algo de minha verdade impedia minha mão de parar
doía cada verso e com culpa eu prosseguia
lendo um poema feito a revelia de mim mesmo
e jurando que aquilo jamais publicaria
Escrevia escrevia e chorava
assustado com o que revelava cada verso
com o sentido que construíam ao me descreverem
Eu não quisera escrever aquele poema
não foram essas palavras que intencionei
mas tomou-me minha mão algo de mim
e com persistência obstinada me escrevia
Cada palavra numa linguagem que me desconstruía
revelava-me o que sempre soube
mas desde sempre eu vivia com se não soubesse.
Excelente