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O Caipira

foto Gilberto Rodrigues

Busquemos a origem do termo, sua etimologia. Sabe-se que é uma palavra de origem Tupy e quem apresenta a definição que me parece a mais aceitável é o ilustre Teodoro Sampaio no seu livro “O TUPI NA GEOGRAFIA NACIONAL”[1], onde define Caipira como “o envergonhado, o tímido”.

Esta definição se repete basicamente em todos os autores que tentaram definir o termo. Por exemplo, Câmara Cascudo[2] nos oferece a seguinte definição: “Homem ou Mulher que não mora na povoação, que não tem instrução ou trato  social, que não sabe vestir-se ou apresentar-se em público”.  Uma outra conceituação é de Beaurepaire-Rohan[3], no livro Dicionário de Vocábulos Brasileiros, RJ, 1889: “ Nome que se designa o habitante  do campo. Equivale a labrego, aldeão, e camponês em Portugal, …”, mais uma definição: “Caipira é o matuto, o roceiro que ainda não se deixou tomar pelas maneiras da cidade.”[4]

             Poderíamos inserir mais uma dezena de definições, mas, como se pode perceber nas citadas, todos vão se assemelhando e dizendo a mesma coisa. É, a meu ver, importante considerar que todas as definições e estudos que foram publicados até hoje margeiam suas definições muito mais pela geografia e pelo jeito “caricato” do homem do campo do que por uma análise de comportamento, estrutura de personalidade e, principalmente, valores deste cidadão brasileiro que se chama Caipira, ou que chamamos Caipira.

            Creio sim, que a Geografia do caipira enquanto determinante da sua origem seja fundamental, mas o que quero ressaltar é o que sobrou, tão entranhado, com tamanha profundeza, na alma do homem que hoje denomina-se e é chamado caipira e que o faz tão rico, original e, creio, indestrutível. A Geografia, para uma definição atual, caducou. Encontramos caipiras em todos os cantos do Brasil e em muitos do mundo afora. Encontramos o Caipira nas grandes cidades, com títulos Universitários os mais altos, e o encontramos também no campo, nos rincões e roças deste nosso “brasilzão”. E aí vem um dado que gosto de observar. O Caipira da roça, semelhante àquelas definições que já vimos, tem uma parecença fantástica com o caipira urbano, usando terno e gravata e falando fluentemente vários idiomas. Isto me leva a afirmar que ser caipira hoje não é mais uma questão de Geografia, de forma de se vestir ou de jeito de falar mas sim um Estado de Alma.

Ser Caipira

é ser dum jeito que num tem explicação

é Ter no fundo d’alma

e nas profundezas do coração

um senso que só tem

a própria essência do sertão”[5]

             O caipira estabelece modos e linguagem peculiares, porém sem contudo impor alguma coisa, algum ritual, alguma adesão. Caipira é algo que se é ou que se aprecia. As modas de viola, entoadas na viola caipira, falam dos amores e do belo. Os causos são estórias com uma simbologia e significados importantes e profundos. A saudade é mais que uma recordação de uma infância ou de uma época. É a vontade de viver segundo princípios e valores que são próprios do caipira e que todos hoje desejaríamos fossem valores de todos nós. Estes valores são enraizados na observância das leis da natureza, no seu respeito e nas suas particularidades. Então ser caipira, antes uma questão de geografia, hoje é uma questão de valores e modos de ser, de pensar e de agir. Ser caipira é saber ser em comunhão com a natureza, é render-se a seus tempos e a suas estações, respeitá-la em sua originalidade e na singularidade de cada um, é cultivá-la para que floresça e dê frutos saudáveis e viçosos. Enquanto a gente espera a semente germinar, o tempo de colher, de arar, de fecundar o chão ou o coração, entoamos modas de viola, contamos “causos”, dançamos catira, ponteamos uma lua cheia…



[1] 4ª edição, da Câmara Municipal de Salvador, 1955.

[2] Dicionário do Folclore Brasileiro, Ed. Melhoramentos, 4ª edição, 1979.

[3] In Câmara Cascudo, op. citada

[4] Silveira Bueno, Professor Emérito da USP, no seu VOCABULÁRIO –Tupi-Guarani Português, Éfeta Editora, 6ª edição, 1.998.

[5] Rodrigues, Gilberto – do Poema Ode ao Caipira, do Livro “Carreando História – Poesia Caipira”

 

Artigo publicado na REVISTA VITRINE, abril 2012, n0. 30, ano4 – vitrinerevista@terra.co.br

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2 Responses to “O Caipira”

By Paulo Reis de Resende - 15 abril 2012 Responder

O CAIPIRA TRAZ NA ALMA A PUREZA DO SEIO DA TERRA.

Parabéns Gilberto, pela visão caipira do Caipira.

By judite rabello - 24 abril 2012 Responder

olá meu querido, fico mto feliz de saber ainda á tempo de prestigiá-lo no lançamento desse livro “DA ALMA DO DIREITO OU A PSICOLOGIA DO DIREITO”.
por favor me passa como funciona é necessário ter convite, caso seja, me passa onde consigo?
aguardo sua resposta.
bj

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