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O adulto é filho da criança!

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Estamos num mês onde os preparativos para a volta as aulas mobiliza toda a nossa sociedade. Escolas sendo reformadas para receber alunos, pais se organizando para seus filhos irem a escola, meios de transportes se preparando para facilitar a vida dos pais…

Olho para tudo isso e me pergunto: Estão pensando de fato no processo de educação de nossas crianças, ou tudo isso é para facilitar a vida dos adultos? Financeiramente para os empresários da educação, funcionalmente para os transportadores de crianças – afinal é uma frente significativa de empregos -, e para os pais, além de proporcionar-lhes a sensação de que estão fazendo o melhor para seus filhos, é um tempo que sabem, podem trabalhar ou agendar alguns compromissos pessoais, pois os filhos estão na escola. Continuo pensando, temendo estar enganado: num deve ser só isso… Continuo refletindo sobre o que é educar as crianças para o mundo: penso que é buscar capacitá-las, sem mutilá-las naquilo de mais peculiar que possuem – a sua autenticidade -, para se adequarem ao mundo civilizado. Não necessariamente para o mundo como nós, os adultos, o desenhamos, ou para este mundo com o qual nos conformamos. Ao não deixarmos a criança aprender, ao impedí-la de descobrir, porque queremos ensiná-la no nosso tempo e do nosso modo não estamos permitindo o desenvolvimento de sua capacidade de pensar, de se posicionar no mundo, de desabrochar-se enquanto sujeito pensante, singular e único, cada qual conforme suas peculiaridades, habilidades e aptidões. É, deve ser isso educar. Deveria ser assim… É? Então…

O problema é  que diante de todo esse estardalhaço de volta as aulas não consigo deixar de perceber que há uma cumplicidade, um pacto, entre pais e educadores com relação às nossas crianças, os pais dos adultos de amanhã. Aqueles adultos serão conseqüência das crianças de hoje. E essa cumplicidade visa o que? – com as exceções que justificam a regra – visa uma criança totalmente adaptada. Aí eu me entristeço porque o que vejo é mais que isso. É a busca de uma criança submissa, subjugada, obediente, que não dê trabalho, que não acarrete problemas na escola, que não dê problema em casa e que nas comparações de praxe não sejam diferentes dos filhos do vizinho, ou do amigo, principalmente se o temos na conta de bem sucedido socialmente. – quanta pobreza!-. E para que isso aconteça o sistema educacional moderno, apesar de todo um discurso que cria, diferente disso que falo, mutila, com o aval – diria até com a conivência e cobrança dos pais-, aquelas crianças que fogem da “normalidade“. A criatividade, a originalidade, o novo, o inusitado não pode acontecer ou tem que ser deixado para as secundárias atividades extra-curriculares. A singularidade do sujeito, sua individualidade torna-se incômodo. As diferenças tornam-se motivo para a busca de um diagnóstico profissional  onde psicólogos, pedagogos, psicopedagogos, neurologistas, psiquiatras, são convocados para explicarem as  diferenças, que justifiquem, que acalme  a sensação de incompetência que estas diferenças individuais provocam nas instituições de ensino, nos pais, nos parentes. Mas, se avalizados por todos considerados competentes, coitada da criança, o problema tem que ser ela mesmo, não é assim? Nunca vi pais ou professores sendo encaminhados, para uma avaliação sobre sua adequação ou inadequação para lidarem com crianças. A sensação de incompetência decorre, então, do fato de se prepararem tão somente para lidar com o mesmo, com o igual,  com o “normal“. Coitadas das crianças que por serem privilegiadas, possuírem algum dom, alguma peculiaridade, uma sensibilidade diferenciada, terem um modo de olhar o mundo um pouco diferente do modo convencional, têm que enfrentar uma escola. Se ela resiste tanto ao enquadramento, apesar de todos os malabarismos e medidas – as vezes até folclóricas e cômicas – que são tentadas, deve ser ela mesmo o problema, dizem.  Mas quem pergunta, quem ousa perguntar sobre o que está tão indigesto pra aquela criança? E eu fico mais triste ainda quando pergunto sobre de quem seria o problema, sobre onde está o problema: e a questão olhada e refletida por este ângulo, fica fácil responder: o problema está na criança que é singular, diferente, mais inteligente talvez…

Imaginem se disséssemos que o problema esta exatamente neste conchavo que se estabeleceu entre sistemas de ensino e familiares, para o adestramento eficaz das crianças de hoje. Imagine se podemos dizer isso? Mas é o que eu afirmo. O problema não são nossas crianças. Só faltava chegarmos a conclusão de que ser diferente, genial, singular, ter um modo próprio de olhar o mundo, ser inteligente, ter um dom, ser mais sensível, enfim, ser autêntico, se constituísse num problema. Aí alguém pode objetar: mas os diferentes são poucos. E eu digo: diferentes somos todos os que escapamos do processo massacrante de adestramento consentido e patrocinado pela crueldade de adultos que não sabem e não querem aprender a lidar com as singularidades de cada sujeito em formação e desenvolvimento, com as singularidades de cada ser humano.

Não há iguais, somos todos singulares.

Os adultos de amanhã serão filhos das crianças de hoje. Que mundo adulto podemos imaginar então? Quanta tristeza! Ainda bem que uma boa parte destas criança arruma, mesmo encerando a monotonia dos banco escolares, um meio de “fugir” deste sistema. Nestas está nossa esperança de um futuro melhor, porque se formos esperar pelos que são agraciados com as benesses do sistema de adestramento atual, lamentaremos, com muito pesar, nosso futuro. Então…

Artigo publicado na revista VITRINE,  fevereiro de 2012, n. 26, ano 5 – www.revistavitrine.com.br

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One Response to “O adulto é filho da criança!”

By João Lúcio - 25 fevereiro 2012 Responder

Boa noite, concordo com tudo isto que vc diz, acho que o problema é os empresário da educação não estão interessados nos “diferentes”, custa cara e não da retorno, é mais fácil tentar enquadra-los ao modelo considerado ideal. Mas, nunca foi muito diferente, pode ser que esteja mais acentuado nos dias de hoje. Abs. João

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