Musa
Ah como quisera saber a hora exata Para poder revelar-me para você Poderia ser que nem me gostasse Mas também poderia vir a me querer Queria a hora exata e a palavra certa Para não vê-la esvaecer por chegar depressa demais E queria a hora exata e o gesto preciso Para não tê-la perdido sem mesmo tê-la acarinhado Faço-te minha musa neste meu sagrado instante E pra isso não careço de seu consentimento Mas preciso morena e viçosa flor de açucena Que se me quiseres no seu tempo faça-me um aceno Quero ir-me ao seu encontro com os meus cuidados Desassossegado por não saber o que dizer-lhe Talvez lhe dê trêmulo apenas uma rosa vermelha E minhas palavras todas de amor que aprendi Como num colar cuidadosamente tecido As poria num poema de encantamento e alegria Para enlaçar-te o pescoço sob esses cabelos negros Quando o primeiro beijo eu fosse te dar E então teus lábios intumescidos e encarnados Apenas murmurariam bem baixinho um convite Para que quando o sol viesse anunciar que amanhecia Fossemos colher flores no jardim e ouvir o piar dos passarinhos.
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