De faltas & sobras
foto Gilberto Rodrigues
Dá-me tua mão
mesmo se enxergá-la ou senti-la
não consegues
esta mesmo a acenar inquieta por não ser
nem se saber não sendo
para afagar completamente
os desejos insabidos do meu coração.
Consinta-me tua mão
e assim me tornarei teu amante.
Olha depois meu amor pelas frestas
que sobrarem entreabertas
se permitir a tua história
e vê se descortinam inertes
teus olhos turvos e vazios –
vazios de mim se porventura
entusiasmam teu coração.
Vejo em tua alma
muito mais que tu
e é exatamente esta sobra, esse isso
o fascínio do meu desejo.
Não sabes o quanto tens para me ofertar
e por realmente de ti nada teres
para de fato poder me oferecer
te amo com a certeza de um nada sei.
Se me deres é porque não possuis
se possuísses, não me daríeis.
E enquanto não te enxergar
continuarei com intenso fervor
pleno de amor pra poder te amar.
Para sermos por instantes felizes
aceita minha mão mesmo se não a oferto
o coração mesmo se não o ofereço
esse amor se eu pudesse te pediria…
Vê se enxerga saindo do meu coração
uma – inexistente – mão a te buscar
nada sei dessa mão pois são mãos de mim
e eu nada sou nem nada eu tenho.
Se entrelaçarem-se essas nossas mãos
afáveis firmes e convictas do que sentem
acalentados ficarão talvez nossos corações.
Amantes nos tornaremos incontinentes
por instantes infindos nos vazios de nós.
Nos amaremos pois não temos um saber
sobre o amor seus prazeres seus sabores
as dores nem os odores
e por não termos vidas nem nada a oferecer
nada que possamos perder
poderemos nos possuir poderemos ser
no vazio pleno
de uma possibilidade de amar.
Amando não seremos
poderemos então nada sendo
sermos livres para o amor.