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Certa vez, Chico Buarque disse que o samba chega ao compositor por caminhos tortuosos. Depois de conhecer a história de Gilberto Rodrigues, pode-se dizer que o mesmo acontece com a poesia. Embora desde muito cedo Gilberto brincasse com as palavras reescrevendo letras das modas de viola que ouvia em Queluzito, interior de Minas Gerais, foi através de um castigo que descobriu-se poeta.

gilberto-rodrigues-foto2 Mesmo sendo um bom aluno, o então seminarista de dezenove anos de idade não havia estudado para uma prova de literatura portuguesa e foi pego colando. Piedoso, o padre fez uma proposta a Gilberto, dizendo que estaria disposto a esquecer o ocorrido caso o infrator lhe entregasse, no dia seguinte, um poema que contivesse todos os conceitos formais da matéria. Gilberto aceitou a punição e compôs, assim, seu primeiro poema, que ficaria como uma espécie de hino do seminário, mesmo após sua saída. Desde então, não parou mais de escrever.

Curioso é saber que a infância de Gilberto não sugeriu a formação de um escritor. Embora o conhecimento fosse algo valorizado pelos pais, o aprendizado da leitura só veio aos oito anos e a escola mais próxima ficava a seis quilômetros dali, de modo que não havia livros por perto – exceção feita a um dicionário de medicina popular, escrito pelo doutor Chernoviz num remoto 1842, que o poeta faz questão de guardar até hoje. Gilberto não arrisca dar nome ao fenômeno, mas acredita que o poeta nasça com a vocação. E é preciso desenvolvê-la, pois, para ele, os poetas têm um compromisso com a sociedade: estimulá-la, seja através das emoções ou das inquietudes que os versos provocam.

Gilberto é autor de sete livros, sendo dois publicados. O primeiro, “Corpo chão”, de 1982, surgiu de uma maneira inusitada. Formado em Psicologia, Gilberto foi contratado por uma multinacional para conversar com os trabalhadores que viriam do campo trabalhar como metalúrgicos. Sendo ele também do interior, tinha a percepção de que o mundo industrial era massacrante, e encontrou-se na difícil situação de não poder dizer àqueles homens que aquilo tudo era uma ilusão. O protesto fez-se, então, em forma de poesia. “Corpo chão” é pesado e vai contra o abandono do homem rural e contra a exploração da indústria. Cinco anos depois, publicou “Bolsa das águas”, em que filosofa sobre as descobertas e a vida em geral, baseando-se até em conceitos psicanalíticos.

Em 2012 o mineiro, então formado em Direito, lançou uma obra inusitada conceitualmente voltada para a área jurídica, porém de forma incrivelmente inédita. Segundo Gilberto, a obra propõe uma reflexão sobre o Direito, sua aplicação, como é ensinado e aprendido atualmente e o seu descompasso com o processo de desenvolvimento, de evolução e de aperfeiçoamento de outras atividades científicas e, principalmente, com relação a sua incapacidade para atender às demandas da sociedade.

Quando põe as coisas na balança, Gilberto Rodrigues considera-se um escritor relapso, e, às vezes, nem se apresenta como poeta – pois entende que, para isso, seria necessário ter o domínio da palavra. E com ele ocorre justamente o contrário: é a palavra que o domina. Assim, o psicólogo dispensa preparações e rituais, porque quando a poesia vem, ela vem sem esforço. E muitas vezes com o primeiro verso já pronto. O poemas não são trabalhados, eles ficam da forma que nascem. Isso porque Gilberto percebeu que, ao tentar reescrevê-los, acabava criando outro texto, distante da emoção que queria passar. Desde então, preferiu não intervir mais em seu processo de criação. Descrente do conceito de inspiração, prefere dizer que sua poesia vem da permissão que dá às pequenas coisas do cotidiano o tocarem. Afinal de contas, a poesia é coletiva, daí a sua capacidade de emocionar a todos e ser atemporal.

Atualmente, Gilberto concilia seu ofício de psicólogo com o de poeta. Seu último projeto chama-se “Carreando histórias” e é todo escrito conforme a fala do homem interiorano. Além disso, está empenhado em seu novo blog, onde pretende depositar toda sua produção poética e também suas entrevistas e fotografias.

 

Entrevista concedida a Guilherme Tauil, para o ar.v cultural, jornal cultural.

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